sábado, 22 de novembro de 2014

Dia da Consciência Negra na Escola Municipal Cândido Athayde






 
 
Na data 20 de novembro, dia da Consciência Negra, a Escola Municipal Cândido Athayde reservou o dia para atrações culturais e debates, que trouxeram reflexões sobre questões importantes e que devem ser lembradas como: a memória histórica africana no Brasil, a diversidade cultural e o respeito às diferenças, a discriminação étnica e os direitos humanos, bem como todas as cores, ritmos, belezas e sons que marcam a identidade e a cultura afro-brasileira.

Na noite deste dia, o professor da Escola Municipal Comendador, Ismatônio Sarmento (o professor Ismar), que participou na oportunidade de uma mesa temática.

Segue abaixo o resumo da palestra pelo próprio professor:

O que significa discriminação? Discriminar quer dizer - fazer distinção, separar, criar uma ponte de diferença entre nós e eles. A humanidade é historicamente e na sua essência discriminatória. Devemos pensar nas formas de lidar com a discriminação e combater veementemente a discriminação assimilada na forma de preconceito.
Mas o que é preconceito? trata-se de uma atitude discriminatória; um julgamento preconcebido, radical e, em geral, agressivo, contra uma outra pessoa. O preconceito coloca de um lado o algoz (ser agônico, portador de sentimentos de aversão, hostilidade, ódios) e de outro a vítima, que é discriminada pelo rótulo ou estereótipo que lhe foi colocado, deturpando e deformulando a sua imagem pessoal.
O racismo, por sua vez, reflete-se como um preconceito ou discriminação pela origem étnica de um indivíduo ou agrupamento de indivíduos.
É sempre uma tentativa de anulação ou de negação do outro. Porém: Como pode o "eu" negar o "outro", se "eu sou o outro"? Se só existo na medida que o outro existe, ou seja, através do contato, alteridade.
Uma das explicações para esta maléfica condição humana pode estar no conceito antropológico de Etnocentrismo. Como pensara o filósofo Michel de Montaigne, no século XVI, nossa rejeição aos costumes e modos de vida diferentes e distantes dos nossos, pode advir de uma visão interna à própria cultura a qual pertencemos. Nossas visões de mundo são sempre muito limitadas ao raio de nossas vivências, tendem a naturalizar valores culturais, generalizando a diferença e gerando intolerâncias.
Ao refletirmos sobre discriminação étnica no Brasil, devemos tomar os negros e índios (sujeitos históricos) como componentes estruturais de um processo histórico-social em pleno movimento e transformação. Estas etnias transfiguraram historicamente de uma violência corporal, para outra exercida contra as mentes; de uma violência simbólica, para outra manifesta na esfera político-social.
Apesar de tudo, índios e negros contrariam e continuam desafiando a história.
Os diversos povos negros vindos da África - Yorubás-nagôs, Daomés-gegês, fantis, malés, alufás, hauçás, umbundos, mandingas, as tribos bantos, etc. - escravizados e perseguidos culturalmente por séculos, resistiram a tudo que lhes foi imposto e se unificaram e reinventaram em uma forma nova e rica de identidade, a cultura afro-brasileira.
Pensemos bem! O que seríamos de nós? o que seria de nosso "brasileirismo"? sem o tempero apimentado do acarajé ou o ritmo contagiante do samba na Sapucaí. Da capoeira, símbolo da fortaleza negra. Do candomblé, que traduziu através do sincretismo religioso entre orixás e santos (Ogum-São Jorge; Iansã-Santa Bárbara; Iemanjá-Nossa Senhora dos Navegantes; Oxalá-Jesus Cristo), a audácia, a perícia, a criatividade e inventividade, para adaptação no espaço e permanência no tempo, da fidelidade do homem negro às suas raízes, hoje "africano-brasileiristas".
Com os índios não fora diferente (vítimas das armas do branco, das doenças do branco, da "catequização cultural", do apresamento, do genocídio étnico e ocupação de suas terras). Eles não somente sobrevivem como aumentam suas populações a cada ano, em uma diversidade de tribos, povos, línguas, costumes - são os Nambiquara, Mamaindê, Kraôs, Enawenês-Nawês, Guajajara, Canela, Xavantes, Tembés, Tenetehara, Tremembés, Jê-Timbiras, Wajãpi, Yanomamis, Kayapós, entre tantos outros. Para estes, espiritualidade, crenças, arte, mágica e mitologia não se separam da realidade. A exemplo do ritual da menina moça, um rito de passagem que comporta variantes como a espiritualidade, o mito e a organização social dos povos indígenas; ou dos Xamãs e seus rituais de xamanismo, alentando para os mitos que os criaram e lhe deram os poderes mágicos de sua existência.
Tudo isso nos exige um novo olhar cultural, o que significa recomeçar uma nova história da diversidade cultural brasileira, reconhecendo-a e aceitando-a. Para tal, devemos repensar a cultura e refazer os laços pelos quais a sociedade estabelece suas relações.
Nas últimas décadas, o Estado tem implementado políticas importantes, em virtude das lutas e movimentos populares pró-cultura e pró-direitos humanos. Assim, tornou-se obrigatório o ensino de História e culturas afro-brasileira e indígena, além das políticas de cotas, das garantias legais do direito a igualdade e das demandas de patrimonialização da cultura pelo IPHAN, Hoje, elementos das culturas afro e indígena como o Samba de Roda do Recôncavo Baiano e as pinturas e desenhos gráficos Wajãpi são consideradas patrimônio nacional e patrimônio cultural da humanidade pela Unesco.
São apenas os primeiros passos de uma longa jornada para "driblar" uma história forjada pela discriminação e o preconceito. O dia da consciência negra deve nos lembrar de tudo isso e a educação tem esse papel fundamental de promover esta memória cada vez mais, afim de que construamos um futuro mais humano.
Como afirmou Gilberto Freyre: "Todo brasileiro, mesmo o alvo, cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro".

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