quarta-feira, 3 de abril de 2013

PALESTRA RELATIVA AO PROJETO INTERDISCIPLINAR, PIAUÍ – JANELA ABERTA PARA O MUNDO



No dia 26 de março de 2013 fora realizada na Escola Municipal Comendador Cortez às 14 horas, para as turmas de 7°, 8° e 9° ano, uma Palestra cujos enfoques principais eram a Historia da Filosofia e o processo de humanização do homem.

Abaixo segue o resumo das temáticas apresentadas na Palestra:

O ser humano: trata-se do único ser vivo complexo do mundo; os demais são apenas “alegoria biológica” de “um mundo feito de humanos”. Ser, pensar, fazer e transformar, podem ser categorizados como caracteres abstratos que definem este “antropocentrismo ecossistêmico”. Sabemos o que somos e o que não somos; sabemos que somos porque pensamos, e como diria René descartes, se eu penso é porque eu existo. Este ser pensante é fazedor da sua vida e transformador da História, da sua História. A História humana é complexamente a “História das Culturas”, tendo em vista a influência dos fatores socioculturais no transcorrer do tempo, afinal, se somos homens, somos intrinsecamente cultura: seres culturais culturalizados. Para o filósofo brasileiro Gilberto Cotrim, a cultura representa todos os atributos humanos: valores, costumes, conhecimentos e crenças que formam e, ao mesmo tempo, modelam as sociedades.
As culturas se diversificam temporalmente e espacialmente, produzindo certas contradições, obcessões e agonias que são propriedade coletiva da humanidade. Como afirmaria Blaise Pascal, “o homem é uma quimera (monstro mitológico), mas também é prodígio (senhor das suas ações); o homem é juiz de todas as coisas, entretanto é a escória do universo”. “Platonificando”, assim nascem as contradições humanas, da admiração pelo que é belo e apaixonante, pela não resistência ao desejo insaciável e encantado da descoberta. As ideias teológicas, no livro de Genesis da bíblia, falam do contraditório desejo de Adão e Eva em relação ao desejo do seu criador, que os amaldiçoou por toda a eternidade. Talvez seja a Filosofia, “a maçã amaldiçoada” que as primeiras criações celestes desejaram.
Prometeu é uma espécie de Adão da mitologia grega: sua cobiça o levou a roubar o fogo do Olimpo para doar aos mortais. O fogo, por sua vez, era propriedade exclusiva dos deuses, e o preço a ser pago por Prometeu foi a condenação ao isolamento “eterno”, 30 mil anos acorrentado no monte Cáucaso. As crenças mitológicas formularam as respostas ao existencial humano até por volta do século V a.C, quando a filosofia racional pós-socrática emergiu como explicação mais coerente e ordenada sobre “o homem e o seu universo”. Platão em seus diálogos socráticos, no livro VII de “A República”, escreveu sobre “o mito da caverna”: nele, Sócrates fala sobre pessoas presas por correntes em uma caverna escura, aonde o fogo arde e irradia uma luz; as sombras humanas projetadas nas paredes da caverna são entendidas pelos presos como a realidade, não como suas sombras.
O mito platônico é uma síntese de sua teoria das ideias – na qual o mundo sensível, o mundo tal como o vemos, trata-se apenas de uma aparência, uma projeção da realidade. Para o filósofo, a busca pela verdade, pelo conhecimento pleno, seria a única forma de encontrar a claridez que fará do homem o mais completo e perfeito ser.
A filosofia clássica de Sócrates, Platão e de seu discípulo Aristóteles, se difundiu pelo mundo ocidental por volta dos século IV a.C, quando o imperador Alexandre, o grande, rei da Macedônia, propagou a cultura helênica e o conhecimento filosófico grego a todos os seus domínios. A fundação de Alexandria, centro artístico, intelectual e político do Império macedônico, talvez tenha sido o mais simbólico e histórico marco na difusão geográfica e cultural do helenismo.
Em 380 d.C, no Império Romano já decadente, a Igreja Católica é instituída como Igreja Estatal, estabelecendo o elo que fundamentaria a vida social, a História e a Filosofia nos próximos séculos. Antes, já em 312 d.C, Constantino I, teria se convertido ao cristianismo, tendo o tornado a religião oficial do Império Romano. É a partir de então que a História passa a demarcar o “nascimento” dos medos, dos valores ético-morais e da organização sociopolítica, fundados sob a égide do Teocentrismo.
Santo Agostinho (354-430 d.C) e São Tomás de Aquino (1226-1274) foram, provavelmente os maiores nomes da Filosofia durante a Idade Média. Agostinho redefiniu os princípios maniqueístas do bem e do mal, estabelecendo que o homem, como alma e corpo, deveria manter a supremacia do espírito sobre a matéria, atingindo a vontade de Deus, desta maneira, seria guiado ao caminho da verdade, da liberdade e da sabedoria, ficando livre das agruras do pecado. Em São Tomás de Aquino encontramos uma filosofia aristotélica a serviço dos valores cristãos: o ser e a essência somente se identificam naquele que é naturalmente pleno, Deus.
O poder, no medievalismo dos séculos XII ao XVI, era um fundamento político-religioso, uma lógica derivada de um princípio moral que conjugava os valores cristãos e políticos. Coube a Nicolau de Maquiavel “cerrar” a aliança entre os reis absolutistas e o clero católico. Para o príncipe o que existia era uma política idealizada, distante da realidade. O Estado constitui-se em um elemento autônomo. Para a manutenção do poder de Estado, os fins seriam justificados pelos resultados (os fins justificariam os meios).
O final da Idade Média foi marcado pelo renascimento cultural, pelo revolucionismo e pela difusão dos valores de liberdade e igualdade provindos da Revolução Francesa. Surgem os ideais iluministas e liberalistas filosóficos.
Do Racionalismo de René Descartes, passando pela concepção liberal de Hegel, pela filosofia política de Webber, as noções de Estado de Hobbes, o contrato social de Rousseau, a razão humana de Kant, a genealogia da moral de Nietzsche, a luta de classes de Marx e o existencialismo de Sartre, dentre outros, a Filosofia atinge o ápice de seu antropocentrismo, trazendo consigo todo um arcabouço teórico e prático ligado às questões sociais e humanitárias.
Imagino que o humanitarismo seja a maior dádiva que a História da Filosofia trouxe para o presente. Nossos medos, finalmente, podem ter uma clarividência em um único medo, o medo da morte. A morte do espiritualismo humano, do sonho, da coragem, do amor, da paz, enfim, a morte da esperança. A esperança; esta se concretiza como a mais ávida das virtudes humanas. Como dissera Jean Paul Sartre, “a esperança sempre foi uma das forças dominantes das revoluções e das insurreições, e eu ainda sinto a esperança como minha concepção de futuro”. Nossa existência é uma luta interna, travada entre o pecado que nos foi legado e a esperança infindável de um mundo mais justo.


 

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